quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sobre o nosso (muito mais do que muitíssimo breve) primeiro beijo

E pensando na maneira de voar
Do beija-flor, minha formosa flor,
Feito ele que parece não cansar
Quero te amar e te chamar meu amor

Por onde ─ e pelo o que ─ a gente passar
Feito o beija-flor beija cada flor
A parecer incapaz de cansar
Enquanto amas e me chamas meu amor.

Tão brevemente entra em nosso jardim
O beija-flor com a sua simpatia;
De uma em uma cada flor ele as beija

Todas, mesmo a ser tão pequeno... E veja!
Breves igual a ele ─ quem lembraria?! ─
Fomos quando foste toda para mim.

30 de agosto de 2011 – 23h 23min

Índios

É, a ignorância, uma dádiva da inocência?
Da inocência que foi morta pela ganância
Do covarde que apenas ante a ignorância
Arriscou-se a mostrar a sua fútil potência?

Pena é do que não tinha a mínima consciência,
Do que nos espelhos ─ um ato vil de confiança ─
Não viu a onipotente ânsia, bruta arrogância
De quem usurpou sem medir as conseqüências.

Podre é o pau-brasil, negro é o brilho dos metais,
Quebrado o tacape, o arco e a flecha quebrados,
A pólvora queimada, as lâminas partidas,

Cultura dizimada, a nada reduzida
Se comparas ao esplendor de tempos passados...
Urucum misturado ao sangue dos ancestrais!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Grilo


Do teu quarto podes ouvir o mar:
Aqui somente o silêncio da lua,
Algum rumor entre os grilos da rua,
Enquanto uma a uma estão ondas a quebrar...


Quando a aurora viesse a despontar
Queria eu estar junto à cama que é tua:
Não te observar dormir, seminua,
Mas um ótimo dia te desejar


Ao despertar-te com no rosto um beijo,
Nos lábios caso fosse o teu desejo...
Ah! o mar... O mar é sempre tão tranquilo...


Torna-se um com a treva em que me vejo
Quando a noite em segredo eu te desejo
─ Enquanto lá fora há um rumor entre os grilos...

16 de julho de 2011 – 01h 26min


“Nas noites frias poderia ser como um cobertor”


É curto o lençol com o qual vou dormir:
Se de um lado o puxo eu, do outro fica a faltar...
E esta chuva! Parece nuca diminuir!
E este frio! Este frio que continua a aumentar!

O vazio que é não ter aqui a muito sorrir
Satisfeita, feliz por mim esquentar
Quando ainda a chover das estrelas o luzir
No fundo dos teus olhos posso admirar...

Pedaço de tudo que irá me completar,
És o pedaço de pano que está a faltar!
Cuja a ausência rouba-me a noite tranqüila

E também a alegria de contigo sonhar,
De sonhar com os lábios teus a os meus beijar,
De teu nome em um verso revelar, ...
            14 de julho de 2011 – 01h 36min

Tributo a Augusto dos Anjos VI ─ Justiça


Viva enquanto não estiver a te roer
Os olhos a insaciável cria da morte.
Viva enquanto perdurar a tua sorte
Quando será a tua medula a verter


Entre as presas de quem te todo porte
As criaturas está a esperar morrer
─ E trata de nunca tentar correr
Quando para onde não há: É a lei do mais forte


Que injustos dos fracos não discrimina,
Que por toda a criação se dissemina
Feito peste sem poupar a ninguém.


O que devia ser dádiva divina
Resume a existência a uma cruel sina:
Condena, a vida, sem olhar a quem.

            12 de julho de 2011 – 23h 45min

Soneto Insone II


O deus do sono chama-se Morpheu
Porém este deus é um deus mitológico
Cuja inexistência, um ato diabólico,
Muito tem perturbado o sono meu...


Reviro-me na cama e concluo eu,
Vítima de algum raciocínio lógico,
Que isto é fruto do meu psicológico,
Que não existe um deus de nome Morpheu...


Mas há algo em mim dizendo pressentir
O sono que parece nunca vir
Oculto em baixo do meu travesseiro


Enquanto Morpheu fica só a assistir
Quem se atormenta por tentar dormir,
Aos bocejos: mais um deus trapaceiro...

            31 de maio de 2010 – 01h 19min

Calar de flores

Calar de flores

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Tributo a Augusto dos Anjos VII – Devorador de sonhos

Nada mais que um mendigo megalomaníaco
Em minha insanidade eu compreendo e sou o mundo.
Então eu percebo o quanto eu mesmo sou imundo
Durante um único minuto hipocondríaco:

Vejo-me refém num etéreo submundo
Governado por seres vis e demoníacos
Feito muito inutilmente tenta um paralítico
Escapar do limo de um buraco sem fundo.

Pastor de um rebanho de ovelhas desgarradas
Em um campo infestado de lobos medonhos
Eu sigo, egocentrista, o rastro de meus sonhos

Como um fantasma a penar por vidas passadas
Sem crer na vida reduzida ao mesmo nada
De onde nascem e pra onde tornam nossos sonhos.

            13 de julho de 2011 – 01h 35min

Brincar com fogo

Maldito o que disse que quem brincar
Com fogo, com fogo irá se queimar
─ Bendita a mãe que sempre tem razão,
Que todo o saber de uma geração

A outra passado a mim soube passar.
Mas eu nunca poderia imaginar
Quão doce é a chama que não queima a mão
Mas gentil arde em meu coração.

Chama que nunca fere mas que aquece
O íntimo como astro que do céu desce,
Tal a doce candura dos olhos teus

Que me fazem lembrar favos de mel
─ Sob o sol, castanhos de um tom bem claro
Que antes eu nunca vi: de um sabor de raro...

            12 de julho de 2011 – 01h 56min

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Soneto insone

O que andará fazendo o tal Morpheu?
Terá ele adormecido no seu trono
Quando eu, sem conseguir dormir, sem sono,
Fico a me revirar no leito meu?

O que será de mim? O que faço eu
Quando da minha insônia não sou dono?
Quando no sossegado ar de seu trono
Terá adormecido o próprio Morpheu?

Este escuro, o frio, é tudo tão medonho...
Me frustra não poder voltar ao sonho
De uma sonhada noite, a mais tranqüila,

Não dormir, o pirralho mais risonho,
Com quem todos os dias desperto eu sonho:
Nunca sonhar no colo de Priscila.
            30 de maio de 2011 – 22h 54min