quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Da Lua


De encher os olhos, em meio ao tudo e ao nada,
Diante da qual e sob a mesma todo o mundo
Passa, inexpressiva em sua face mais nevada
Se encontra imersa no silêncio mais profundo.

Inalcançavelmente linda e imaculada,
Pálida de terror ante o desejo imundo
Dos que se enfim tivessem-na não fariam nada,
Doentia a sua luz inspira versos infecundos

Que se outrora eram de cantigas tão bucólicas,
Caso não desde sempre, a começar de agora
Sucedem-se tais fossem insuportáveis cólicas!

Paira envolta por um espectral mistério...
E após voltas a cada ciclo noite afora
É finalmente expulsa tal qual óvulo estéril!

19 de setembro de 2012 - 01h 38min
João Pessoa  - Paraíba  -  Brasil

Adolfo J. de Lima

Cajueiro II



Diz-me: haverá o que o mundo possa consternar?
Por maior que seja, até sem fim! uma tristeza
Jamais algo consegue vir a me abalar
Mais que sobre si o juízo da Mãe Natureza.

Grossos os troncos de um cajueiro com leveza
Dançam ao vento. Seus frutos a despencar
Sem haver quem os salve, apanhe. Eis a beleza
De tudo: tal o espírito a se libertar

Do corpo, adocicado um perfume se evola
A partir do chão frio e sujo rumo às alturas,
A carne apodrecendo de despeito ante a alma

Enquanto uma noite a mais se desenrola
Como todas as outras, tão fria quanto escura.
Contudo, perfumada, muito mais calma...

09 de novembro de 2013 - 03h 49min
João Pessoa - Paraíba - Brasil

Adolfo J. de Lima

sexta-feira, 1 de março de 2013

Teu ninho II


Se hoje dormes só, a tua cama é espaçosa,
A minha também nos acolheria
─ Lá fora a chuva cai ruidosa e fria
Enquanto tu és tão quente e tão cheirosa...

E no teu ouvido eu sussurraria
Enquanto a chuva cai e cai fria e ruidosa:
“E que esta noite seja tão vagarosa
Feito são as noites feitas de nostalgia...

Que eu possa deliciar-me em teu carinho.
Não importa o tempo, que seja a passar
Se juntos estamos na mesma cama...

Vem! deixa eu te morder devagarzinho,
Nos braços o teu corpo tomar...
Confidencia entre dois beijos que me ama.”

            26 de setembro de 2011 – 11h 30min

Adolfo J. de Lima

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Princípio da revisão de princípios

Frio, contudo nunca inescrupuloso,
A ponto de ser cínico paciente,
Mesmo que eu mostre o quão sou carinhoso
A fim de disfarçar cinicamente

As coisas que jamais me saem da mente:
Tão gostoso o perfume em seu pescoço,
O seu tom quase sempre tão carente,
Seu jeito de olhar muita vez manhoso...

Prazer: Pelos Escrúpulos Eu Traído!
Pelo Respeito Para Trás O Posto,
A Calar E Assim Rever Com Desgosto

Os Princípios Que Sempre Havia Seguido:
Pela Falta De Escrúpulos Atraído,
Prazer: Até Mais, e Um Beijo No Rosto...!

29 de janeiro de 2013 – 08h 01min
João Pessoa  -  Paraíba  -  Brasil


Adolfo J. de Lima

Revisão de princípios – A esmo nada além de si mesmo

Pois é preciso princípios rever,
De mim mesmo me insinuar o inimigo:
Um dia poderei vir a em paz morrer
Se eu se quer posso conviver comigo

Por ela não me desejar consigo?!
Pois pode sofrer, pode fenecer,
Pode não ser nada: a partir de amigo
E nada além disto, um amigo, ser.

Se a princípio uma paciência de Jó
Tive um término tem todo princípio:
Ter princípio mereceria algo tão ímpio?!

Sendo assim a si almeje e seja pó!
Sonho ser?! só se engendrado uma vez
E abortado, inda assim, pelo ser talvez!

24 de fevereiro de 2013 – 22h 26min
João Pessoa  -  Paraíba  -  Brasil


Adolfo J. de Lima

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Rainha de copas

Antes de tudo: isto não é um soneto, contudo além de escrito sob uma forma bem fixa o blog é meu.




Rainha de copas
            A todos aqueles que lêem livros rasos, contudo àquelas duas em especial...
Temo, superficial supérflua superfície:
Haverá o que de mim em ti eu confidencie?
Tenho-te às mãos e julgo a tua imagem bonita:
Sou superficialista? O teu naipe e a tua cor
Vejo, e temo a pensar no valor do teu amor
Por palavras tão superficialmente escritas:

Rainha de copas és em meio aos hindu-arábicos,
Representação destes meus metros silábicos;
És em minhas mãos, a pose de austeridade
Mais bonita e inda assim se ponho-te virada...
Desminta-me: se não podes me ver tu nada
Vês além de tanta superficialidade!

Ó! supérflua superfície superficial,
Eu já sinto um pesar! Sinto que me leias mal
Por eu melhor, quase tão bem, ‘star escrevendo!
E por bagunçar o plano que eu tenho em mãos
Quereres temo, e grande alguma confusão
Até parece que aqui escrita já estou vendo!

Confusão uma em meio ao meu bem marcado jogo...
Podes ser rainha, mas eu sozinho não jogo.
Mesmo rainha num baralho somente há duas
Cartas posando assim, igualmente dignas.
E saiba, se isto ainda tanto não te indigna:
Rainhas, entretanto em nossas QUATRO mãos nuas!

E és de cores tão vivas e inda assim tão fria...
Contudo como é que a si mesmo tu lerias?
O teu coração reside na superfície,
És de copas e o teu amor se resume a uma imagem,
Raro pareceste ir muito além destas margens:
Eis o temor que aqui a princípio eu te disse!

Das palavras desejas se manter viva
Contudo como, se em ti o que cada uma aviva
É incapaz de dar vida às seguintes palavras?
Como apreciar se contudo cheios destes contudos
Os escritos que mais dizem então se verem mudos,
Frustrados, sem valor apesar da escrita cara?

Pense então na mão que a tua realeza desenha
E pense na tua boa mão de engendrar resenhas:
Tens um cetro e tu o moves com toda a destreza
Contudo o teu meneio logo será esquecido:
Os teus melhores livros terão merecido
Isto? Que isto faz da tua suposta realeza?

Banal, mas é profundo e imenso: reconheço.
Contudo se somente algo tem sido impresso
É o tratar supérfluo dado às obras de arte.
E a reconhecer não sou o único, e não me livro
Disto que há de ser tal a leitura dos teus livros:
Mesmo rainha ao fim de jogo serás descarte...

25 de fevereiro de 2013 – 01h 32min
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Adolfo J. de Lima

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

"Deus está morto!"

”Deus está morto!”
Feito o bom penitente que se ajoelha
Pois assim a sua alma vil à luz se eleva
Cansa-se o sol, a sua pálpebra vermelha
Fecha e assim sobre o mundo se ergue a treva.

Por juízo, algo mau, um juízo foi imposto a Eva
De tudo o que ao divino se assemelha
Mãe: e então o homem hoje o Deus do ontem releva
– Na pequenez do homem que se avermelha

O deus que morreu enquanto a adormecer
Eram os homens na própria vergonha!
Deus que louco morreu por sua piedade,

Que amam fazendo o homem à cruz sofrer,
Que ao homem que ser Super-homem sonha
Chamam e vingam com falsa humildade...

21 de fevereiro de 2013 – 22h 13min
João Pessoa  -  Paraíba  -  Brasil


Adolfo J. de Lima

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Tão mal, feito raro, querendo esquecer

À minha Sakura



Muito bem, como sempre, inda recordo...
Contudo nalgo não desejo crer:
De mim será o que, inda há o que eu possa ser?
Parece-me que toda vez que acordo

Faço-o num sonho ruim: o que fazer?
Só de escrever os meus dedos eu mordo:
Lembro o desacordo em comum acordo,
Me arrependo por não me arrepender,

Por ter me irritado muito me irrito,
Pela aflição que antes não senti aflito;
Por toda a tristeza ainda assim tão triste

O belo busco no que não é bonito
Para não ver o término infinito
De uma chance que eu nem sei se inda existe...

12 de fevereiro de 2013 – 03h 58min
João Pessoa  -  Paraíba  -  Brasil

Adolfo J. de Lima

Anjo de pedra


Virias a acreditar que eu, um anjo, minto? 
Sempre uni e unirei as minhas pequeninas
Mãos pela alma desta inocente menina,
Porém pela sua morte eu nada sinto!

O que sentir pelo que jaz extinto
Se nem mesmo a vida me desatina?!
Certo, aqui a “existência” se descortina,
Porém pela sua morte eu nada sinto!

Que se dane a beleza extraordinária
Da tristeza em minha face: não há tristeza!
Confundes a dó pelo meu desprezo,

A que me tornou estátua funerária
A fim de que com tanta sutileza
Da minha existência amenizar o peso...

13 de fevereiro de 2013 – 01h 37min
João Pessoa  -  Paraíba  -  Brasil

Adolfo J. de Lima

Bárbara Barbara


A Barbara Sá, pelos sms muito mais eróticos que 50 tons cinza
 
É paixão e ódio, Barbara. Tu não me és nada
E inda assim coisa tão bárbara em minha vida:
De amor cada promessa ligeiro abortada
E cada jura de ódio que não será vivida.

É aquela coisa sempre tão desinibida
Sem verdadeiramente ser a depravada:
É como a fúria de uma mulher mal comida,
Sem tesão o tesão da fome escandalizada!

Relação senta não trepa, trepa não goza,
Morde e assopra, romance onde ninguém se envolve
Neste lambe e belisca! E com o outro se bole

Tanto, as palavras suando de tão maliciosas,
Que já insinuam cumplicidade de um 69
A nível do famigerado chupa e engole!

14 de fevereiro de 2013 – 00h 00min
João Pessoa  -  Paraíba  -  Paraíba

Adolfo J. de Lima

sábado, 22 de dezembro de 2012

Vela de Cera

O amor é como de cera uma vela:
Calor a mais ao frio do coração,
De fato luz em nossa escuridão
E por luz ser nos é a coisa mais bela.

Contudo em torno de si a treva sela,
Um ponto que em meio a um imenso vão
Vendo que luz em vão à imensidão
Bruxuleia como quem o fim protela...

Confidente do que ninguém ouviu,
Imerso numa agonia verdadeira
Que sabe apenas quem assim se viu,

O amor é como uma vela de cera
Que torcendo o que resta do pavio
Sempre em silencio chora a sua canseira...

11 de dezembro de 2012 – 11h 12min
João Pessoa  -  Brasil  -  Paraíba


Adolfo J. de Lima

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Estações


A primavera, meu amor, já é passado...
As folhas, meu amor, já estão a despencar:
É o outono, meu amor, já a aqui chegar
Mesmo não sendo, meu amor, convidado...

Que possas, bela flor, vir a aguentar
O vento, bela flor, cruel tal um machado...
Se algo, bela flor, faz-me desolado
É aos campos, bela flor, não te avistar.

Gélida ainda, meu amor, a neve é pura,
O inverno, meu amor, não é somente frio
Mas é, meu amor, excesso de candura.

Plantamos, bela flor, uma semente!
E é, bela flor, por ela que eu sorriu:
Ei de ser primavera novamanente!

29 de maio de 2012 - 23h 50min
Quanto ao verão
Fazemos nós,
Nós dois a sós,
Nosso verão:
Todos verão
Nós dois dois sóis
Maiores que o sol,
Que a imensidão...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Órgão

Mero suspiro dos cânticos celestias
És, sopro das sombrias sinfonias tempestuosas,
Ressoante coração destas frias catedrais
Sempre tão monumentais quanto silenciosas.

E tu pulsas nas imagens destes vitrais
Moldados à imagem de notas harmoniosas
Que vezes sinestesicamente infernais
Assombram as almas outrora jubilosas.

Traduziste bem o Bem e também o Mal
No ar e foste instrumento supremo, contudo
O verso silencioso que imortalizou

A ancestraliedade desta tua catedral
É o verso ante o qual tu há de permanecer mudo:
Não sopras o ar que há em mim. Suspiras o que eu sou.

12 de janeiro de 2012 ─ 22h 04min

Adolfo Justino de Lima

domingo, 18 de novembro de 2012

O Carvalho

Da colina mais verde eu sou o carvalho!
Do mundo a raiz  também é a minha raiz!
Ser o mais quieto foi o que eu sempre fiz
Por saber que feito tudo eu sou falho!

Não confunda lágrimas com orvalho
Feito o calar com semblante infeliz!
Não sou o mais triste nem o mais feliz!
Sou a agonia em meus retorcidos galhos!

Sob a minha copa deita a tua angústia!
Sob mim que sou a arcana lamúria,
Que o fim do mundo assito e nunca ralho!

Sobe a colina, te esfalfa de bruços!
Contra mim cerra os teus cansados pulsos
Para que a tua dor eu ofereça agasalho.

01 de novembro de 2011 - 14h 30min


sábado, 17 de novembro de 2012

Rumor

Crê em mim. Pois eu costumo ouvir rumores.
Senão, pois raro neles acredito.
Crê em mim, não importa muito onde tu fores
Haverá o que por mim a ti aqui é dito:

Dentre os sussurros todos do Infinito
Tal qual uma gentil brisa entre flores
Nenhum se mostrou, até então, tão bonito,
Crê em mim. Pois eu costumo ouvir rumores...

E dentre tudo o que por toda a parte
Por mim, dentre tantos, tem sido ouvido
É que ainda sendo a última obra de arte

A tudo deu início, tal a ser escrito
Prestes um poema: do que eu não duvido.
Crê em mim. Pois ‘te rumor é o mais bonito...

20 de agosto de 2012  -  13h 28min
João Pessoa  -  Paraíba  -  Brasil

Adolfo Justino de Lima

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Tributo a Augusto dos Anjos XIV – Judas

Maldita é a serpente dissimulada
Que tudo conta a achar tudo saber.
E por a si mesma não perceber
Para todo o sempre estará fada
 
A ter então a sua cabeça esmagada
Pelo calcanhar que tentou morder:
Quem mais de uma vez tentamos fazer
Nosso amigo nos traiu por nada.

Criatura de entendimento pequeno!
Criatura supérflua, ser desprezível,
Um mimado, fruto de criação vil!

Pela última vez cuspiu o seu veneno,
Disse o que foi decidido indizível.
Pela última vez a nós todos traiu!

            09 de outubro de 2011 – 23h 26min

Mordidas no escuro II

Eu te olhava nos olhos, te pedia “me beija!”
E me olhavas quando eu não olhava e eu calava.
E os teus lábios olhava e “por que não me beijas?”
Eu me perguntava e quase nada falavas...

E enquanto isto em licor uma doce cereja
Banhada na tua boca tépida rolava.
Enquanto nos mordíamos na íntima peleja
A cereja eu tentava e esta tu me negavas.

E ainda assim nesta noite eu dormi satisfeito
Por respeitar a ti que ainda devia respeito
A quem hoje não tens tanto de respeitar.

Pois se ele não tratou como tal o que é perfeito,
Mesmo eu também não o sendo, o que tem de ser feito
Farei para assim sermos ─ Só para te agradar.

            05 de agosto de 2011 – 20h 42min