terça-feira, 20 de novembro de 2012

Estações


A primavera, meu amor, já é passado...
As folhas, meu amor, já estão a despencar:
É o outono, meu amor, já a aqui chegar
Mesmo não sendo, meu amor, convidado...

Que possas, bela flor, vir a aguentar
O vento, bela flor, cruel tal um machado...
Se algo, bela flor, faz-me desolado
É aos campos, bela flor, não te avistar.

Gélida ainda, meu amor, a neve é pura,
O inverno, meu amor, não é somente frio
Mas é, meu amor, excesso de candura.

Plantamos, bela flor, uma semente!
E é, bela flor, por ela que eu sorriu:
Ei de ser primavera novamanente!

29 de maio de 2012 - 23h 50min
Quanto ao verão
Fazemos nós,
Nós dois a sós,
Nosso verão:
Todos verão
Nós dois dois sóis
Maiores que o sol,
Que a imensidão...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Órgão

Mero suspiro dos cânticos celestias
És, sopro das sombrias sinfonias tempestuosas,
Ressoante coração destas frias catedrais
Sempre tão monumentais quanto silenciosas.

E tu pulsas nas imagens destes vitrais
Moldados à imagem de notas harmoniosas
Que vezes sinestesicamente infernais
Assombram as almas outrora jubilosas.

Traduziste bem o Bem e também o Mal
No ar e foste instrumento supremo, contudo
O verso silencioso que imortalizou

A ancestraliedade desta tua catedral
É o verso ante o qual tu há de permanecer mudo:
Não sopras o ar que há em mim. Suspiras o que eu sou.

12 de janeiro de 2012 ─ 22h 04min

Adolfo Justino de Lima

domingo, 18 de novembro de 2012

O Carvalho

Da colina mais verde eu sou o carvalho!
Do mundo a raiz  também é a minha raiz!
Ser o mais quieto foi o que eu sempre fiz
Por saber que feito tudo eu sou falho!

Não confunda lágrimas com orvalho
Feito o calar com semblante infeliz!
Não sou o mais triste nem o mais feliz!
Sou a agonia em meus retorcidos galhos!

Sob a minha copa deita a tua angústia!
Sob mim que sou a arcana lamúria,
Que o fim do mundo assito e nunca ralho!

Sobe a colina, te esfalfa de bruços!
Contra mim cerra os teus cansados pulsos
Para que a tua dor eu ofereça agasalho.

01 de novembro de 2011 - 14h 30min


sábado, 17 de novembro de 2012

Rumor

Crê em mim. Pois eu costumo ouvir rumores.
Senão, pois raro neles acredito.
Crê em mim, não importa muito onde tu fores
Haverá o que por mim a ti aqui é dito:

Dentre os sussurros todos do Infinito
Tal qual uma gentil brisa entre flores
Nenhum se mostrou, até então, tão bonito,
Crê em mim. Pois eu costumo ouvir rumores...

E dentre tudo o que por toda a parte
Por mim, dentre tantos, tem sido ouvido
É que ainda sendo a última obra de arte

A tudo deu início, tal a ser escrito
Prestes um poema: do que eu não duvido.
Crê em mim. Pois ‘te rumor é o mais bonito...

20 de agosto de 2012  -  13h 28min
João Pessoa  -  Paraíba  -  Brasil

Adolfo Justino de Lima

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Tributo a Augusto dos Anjos XIV – Judas

Maldita é a serpente dissimulada
Que tudo conta a achar tudo saber.
E por a si mesma não perceber
Para todo o sempre estará fada
 
A ter então a sua cabeça esmagada
Pelo calcanhar que tentou morder:
Quem mais de uma vez tentamos fazer
Nosso amigo nos traiu por nada.

Criatura de entendimento pequeno!
Criatura supérflua, ser desprezível,
Um mimado, fruto de criação vil!

Pela última vez cuspiu o seu veneno,
Disse o que foi decidido indizível.
Pela última vez a nós todos traiu!

            09 de outubro de 2011 – 23h 26min

Mordidas no escuro II

Eu te olhava nos olhos, te pedia “me beija!”
E me olhavas quando eu não olhava e eu calava.
E os teus lábios olhava e “por que não me beijas?”
Eu me perguntava e quase nada falavas...

E enquanto isto em licor uma doce cereja
Banhada na tua boca tépida rolava.
Enquanto nos mordíamos na íntima peleja
A cereja eu tentava e esta tu me negavas.

E ainda assim nesta noite eu dormi satisfeito
Por respeitar a ti que ainda devia respeito
A quem hoje não tens tanto de respeitar.

Pois se ele não tratou como tal o que é perfeito,
Mesmo eu também não o sendo, o que tem de ser feito
Farei para assim sermos ─ Só para te agradar.

            05 de agosto de 2011 – 20h 42min

Bom dia! II

Como um rubi entre estrelas de brilhantes
Nada compara-se ao teu esplendor
Quando no céu, a pintar de cor em cor
As nuvens, és eterna por instante.

Passarinhos são muito mais cantantes
E inda mais cheirosa é a pequena flor
Quando por onde vais fica um frescor
E, de uma forma vista jamais antes,

Desperta a Criação: de rosa e lilás,
Por uma mão que bem preferiu o giz,
O céu parece ter sido pintado

A fim de à rua levar celeste paz
Quando o meu dia só seria mais feliz
Se eu desperto e então te encontro ao meu lado...

            21 de julho de 2011 – 01h 10min